Matutando pelo povo

por Breno Airan 


Januário Leite, de 23 anos, carrega consigo nada menos que o nome do avô. Sob alcunha de Janu, ainda leva nas costas (ou ‘no lombo’) os Matutos Urbanos: Adams, no baixo, Elisson Xuxa, nas baquetas, e Cristian, nos teclados – não necessariamente com os instrumentos a postos. A banda começou em meados de 2010 e, já em julho daquele ano, fazia seu primeiro show, abrindo para o cultuado Sonic Júnior.

No começo, o grupo contava com Diego Wally, nas guitarras, Adams, nas linhas de baixo, Vitor Nicotina, na bateria, e Janu, nos vocais e ao violão, dando um toque mais classudo à coisa.

Ele e os Matutos Urbanos, que desde janeiro de 2011 tenta manter a mesma formação, fazem um som calcado nas raízes. Embora nascidos em terras do forró elétrico, a pegada deles é mais zabumbada com um toque de samba-rock – vestígios claros de um certo Jorge Ben.

Num primeiro projeto, um EP com seis faixas que na verdade terminam por serem oito, canções que retratam o Anticristo aparecendo, as janelas da percepção sendo abertas através da internet e suas polissemias, contradições de quem se é, obsessões bregas de lampião e Graciliano, rindo. Nuances funkeadas e roqueiras – em certo ponto –, com letras muito bem encaixadas e irônicas. "Brega da Obsessão" conta com a participação de Júnior Bocão (Mopho/Casa Flutuante/Divina Supernova) no Órgão e na produção técnica da música.

Um som sobrevivente das Alagoas. E bem antes dessa carreira solo, o cantor e compositor alagoano se aventurava nas guitarras distorcidas da banda de rock Senhora Rita, que tinha com amigos de colégio e de infância.

Mas Janu saiu. Não por divergências musicais que tenham ocasionado brigas; nada disso. “Principalmente pela liberdade de fazer o que se tem vontade. Não é por questão de ‘querer fazer sozinho’. A banda que toca comigo – a gente se chama de ‘Matuto Urbano’ – tem sempre liberdade de criar tudo”, pontua ele. E emenda, brincando: “E eu quero mesmo é tocar com todo mundo daqui [de Alagoas], daí não seria carreira solo, mas sim carreira conjunta”.

Janu, com efeito, junge alguns elementos populares e ‘de fora’ que o torna único. Seu grupo não parece com nada igual antes feito; nem nova MPB, tampouco algo que se assemelhe com a moda manguebeatiana.

Januário Leite e os Matutos Urbanos são a banda e o povo, a música que ela simplesmente espelha e escreve sobre.